Você já teve a sensação de achar complicado demais realizar orçamento de obras?
Acredito que muitos quando se deparam com a primeira planilha de orçamentos da vida, se sentem assim.
E realizar orçamento de obras pode ser bem simples, mas não quer dizer que ser simples é ser fácil.
Olhando no meu próprio passado, quando tive a oportunidade do primeiro contato, tive a mesma sensação.
Não foi um amor à primeira vista, mas com o tempo formamos uma boa relação de “ganha–ganha”.
Quando se aprende a realizar os mais diversos tipos de orçamento de obras, a sensação é incrível e dificilmente você vai querer parar por aí.
Logo nesse primeiro artigo, você aprenderá o quão simples pode ser orçar uma obra.
Mas primeiro, você pode estar em dúvida, porque é tão importante me especializar nessa área?
A reposta poderia ser longa e contar com no mínimo 7 motivos importantes mas vou focar em apenas um.
Vou citar um único e valioso motivo …
Ela é a sua principal porta de entrada para o mercado de trabalho.
Mas porque Gustavo?
Simples! Já vou explicar.
Se o destino natural de um recém-formado geralmente é o escritório, motivo pelo qual ainda não se tem experiência em campo suficiente para assumir uma obra.
Logo, se você não souber nada sobre orçar, planejar ou qualquer tema importante de uma rotina de escritório, sua chance de conseguir uma vaga cairá drasticamente.
Seja em uma construtora de pequeno, médio ou de grande porte.
Continue lendo esse artigo para aprender mais sobre o guia completo para realizar orçamento de obras de maneira eficiente.
E acredite, com esse conteúdo ficará fácil entender e conhecer um ponto de partida para todos os tipos de obras.
Ter esse conhecimento pode fazer toda diferença entre atuar ou não atuar na área.
Existe diferença entre orçamento e orçamentação?
O orçamento é o resultado de uma orçamentação.
Então, o orçamento é o produto e a orçamentação é o processo para chegar no resultado.
Sendo assim, todo o processo abordado até a planilha final, estarei me referindo sempre ao processo de orçamentação.
Nunca confunda um com o outro!
As estimativas de custos passam por um processo de previsão de como será realizada a obra.
Gosto muito de comparar com um jogo de xadrez, você sempre tem que antecipar 4 ou 5 jogadas futuras do seu oponente.
Assim, podemos prever um ataque ou preparar um belo contra-ataque.
E, no caso de orçar estamos falando sobre estratégias de logísticas, custos de mão de obra por região, alternativas de métodos construtivos, etc.
Logo, o seu maior adversário é o risco envolvido nessa previsão.
Dica: Estude o máximo possível o projeto, os requisitos, a localidade e os métodos construtivos e principalmente, realize muitas simulações.
Sim, simulações de métodos construtivos diferentes, de custos de equipamentos e alternativas para diminuir os custos na execução da obra podem ser a chave entre ganhar ou perder uma licitação.
Mas, muito cuidado ao realiza-las, essa etapa exige um certo grau de experiência e conhecimento sobre como executar os serviços.
Se não tem domínio sobre o tipo de obra, trabalhe sempre em equipe e procure “feedback” de coordenadores ou com um bom engenheiro de campo experiente.
E, já que falei sobre conhecer os serviços, essa sem dúvida é uma das características mais importante para um bom orçamentista.
Agora, se você não tem esse conhecimento, não se preocupe é por isso que criei esse blog. 🙂
Outro aspecto importante é a leitura e interpretação dos projetos, mas falarei mais sobre esse conceito daqui a pouco.
Voltando aos serviços, quanto mais informações detalhadas, com projetos bem definidos, maiores as chances de o valor estar próximo da realidade, porém nunca será exato.
Sim, orçar é um trabalho de previsão e em alguns casos podemos considerar um verdadeiro “jogo de adivinhações”.
Nunca será possível acertar com precisão, mas podemos chegar a um preço de venda o qual beneficie tanto as empresas quanto os contratantes.
Portanto, realizar todos os passos anteriores com qualidade é fundamental para atingir o sucesso do orçamento e consequentemente da empresa.
Atingindo resultados com margens de erro aceitáveis tanto para mais quanto para menos.
E acredite, errar para mais nem sempre é vantagem para a construtora.
A longo prazo pode-se pagar um preço muito alto por falta de credibilidade, caso o cliente descubra e acredite que o erro foi feito de má-fé.
Em todos os casos, sempre trabalhe com respeito e integridade com o contratante/ cliente.
Como é realizado os orçamentos nas construtoras
Aqui temos duas vertentes, os das grandes e pequenas empresas.
E em cada uma delas, existe uma peculiaridade.
Nas grandes empresas, temos departamentos dedicados a realizar orçamentos com uma equipe treinada e bem estruturada.
Elas geralmente utilizam softwares ERP, integrando todas as áreas da construtora, armazenando históricos de últimas compras com informações valiosas.
Saber essas informações e adotar parâmetros de obras recentes pode economizar um bom tempo em cotação de preços.
Já nas pequenas empresas, geralmente o proprietário realiza os próprios orçamentos com base em sua experiência.
Quando se realiza obras do mesmo tipo na mesma região, esses orçamentos tendem a estar corretos e próximos da realidade.
Mas, apesar de presenciar esse tipo de orçamento com sucesso, não aconselho que se utilize como parâmetro.
Uma única alteração no memorial descritivo sem a devida atenção do proprietário, pode haver consequências graves.
Um único erro pode comprometer todo o trabalho e histórico de sucesso da empresa.
Outra péssima prática, é a distância entre o orçamentista e o engenheiro de campo.
Infelizmente já presenciei discussões intermináveis sobre quem errou:
A obra ou o orçamento?
A obra que foi mal executada, ou o orçamento com quantitativos e preços fora da realidade, impossibilitando o lucro.
Geralmente, vejo a obra sendo idolatrada em casos de sucesso e o orçamento sendo crucificado em casos de fracasso.
Talvez, por uma velha cultura impregnada de que a obra gera dinheiro e o escritório gera somente despesas.
O que está longe de ser uma verdade.
Só existe obra porque existiu orçamento – acabei de inventar essa.
Enfim, tirando meu péssimo gosto para brincar, o conceito aqui é o mais importante que você precisa entender.
Caso contrário não existiria obra e nem “dinheiro”, mas na realidade isso é esquecido rapidamente pelos coordenadores e proprietários.
E, se algum momento houver prejuízo, esteja preparado. A responsabilidade irá bater em sua porta.
Mas Gustavo, não existe uma maneira de evitar esse tipo de situação?
Obrigado por perguntar.
E a resposta é sim, existe!
Existe uma maneira de evitar e melhorar esse tipo de situação.
Quando se tem os dois lados da empresa trabalhando juntos, no processo de orçamentação e acompanhamento da execução.
Comparando assim, o previsto no orçamento com o realizado na obra.
Logo, se o engenheiro de campo participou do processo de orçamentação, dificilmente ele irá acusar o orçamentista.
Afinal, ele também foi responsável pela validação do orçamento. 🙂
Sem contar, que de quebra você consegue identificar o que foi previsto que estava fora e arrumar para os próximos!
Excelente! Todos ganham! E a sua empresa agradece.
As principais etapas de um bom orçamento de obras
Tudo o que vimos até agora é sobre o processo de orçamentação, no qual iremos obter ao final, nossa planilha de preço de venda da obra.
E, para falar sobre orçamentação você precisa entender as principais etapas desse processo, vou listar todas:
- Requisitos ou estudo das condicionantes;
- Composição de custos;
- Fechamento do orçamento.
Para iniciar um orçamento, vamos utilizar todo o tipo de requisitos que poderá ser levantando através de projetos, memorial descritivo ou visita técnica.
E a partir desse ponto começamos a quantificar os serviços.
Não esquecendo, que saber em detalhes como executa um serviço pode ajudar bastante nesse processo.
Isso é facilmente resolvido com experiência, livros, cursos sobre como executar os serviços, blogs, vídeos, visitas em obras, etc.
Logo, já que iniciamos a quantificação, ler e interpretar os projetos se torna essencial para seguir com o quantitativo.
Afinal, um trabalho depende exclusivamente do outro.
E, para fechar essa etapa realizamos as cotações de insumos e pesquisas sobre custos de mão de obras, empreitada ou própria.
Enfim, levantamos os custos indiretos, aplicamos os impostos e a margem de lucro desejada.
Obtendo finalmente o preço de venda da obra.
Simples assim!
Requisitos ou estudo das condicionantes
Para começarmos o orçamento, precisamos de algumas informações.
Qual o tipo de obra?
Como está o local da obra? Precisa ser realizado algum tipo de serviço de terraplanagem? ou está pronta para iniciar?
Acesso? É complicado? Trânsito? Distancia para possíveis fretes?
Tem água e luz disponível, vou conseguir realizar ligações provisórias ou terei de utilizar outros meios?
E por aí vai, análise do solo, tipo de fundação, alvenaria, revestimento, instalações…
Para obter esses requisitos, verificamos com o cliente, retiramos do projeto executivo (arquitetura, estrutura, instalações, paisagismo, impermeabilização, etc.) e também através do memorial descritivo da obra.
E observando a rotina de pequenas e medias empresas, em inúmeras vezes você não tem acesso aos projetos executivos para realizar o orçamento.
Sim, infelizmente essa é a realidade de muitas construtoras.
Pensando nisso e tentando minimizar esse problema eu criei um método com anos de aprendizado para ensinar essas estimativas.
O verdadeiro objetivo é treinar os alunos para situações de maiores dificuldades e preparar para sentir confortável, já que no momento que obtiver todos os projetos, estará calejado e resolverá facilmente.
Afinal, se sem o projeto você deu conta, com os projetos vai ser “moleza”.
O curso é um verdadeiro sucesso, com quase mil alunos no momento em que escrevo.
Enfim, voltando para o artigo.
Para aprofundar nesse estudo das condicionantes você precisa entender os 3 passos importantes desse processo.
- Leitura e interpretação do edital
- Leitura e interpretação dos projetos e memorial descritivo
- Visita técnica
1. Leitura e interpretação do edital
O edital é o documento que define as regras para participação em licitações, no caso de obras ele define as regras do projeto.
E para ler e interpretar um edital é fácil, geralmente começa com as definições de data e horário de entrega dos envelopes (Proposta e Habilitação).
E ao longo do documento você identifica os requisitos de cada envelope, com as especificações de cada item.
Logo na entrega os documentos serão analisados e o melhor preço com todas as exigências atendidas será a vencedora da licitação.
Vou deixar para aprofundar nesse tema em outro artigo porque ele é bem extenso.
O importante aqui, é entender que existem alguns aspectos na leitura e interpretação que serão essenciais para a elaboração da proposta:
- Prazo da obra;
- Penalidades por atraso;
- Medições, pagamentos e se existem reajustes ou possíveis aditivos em caso de erro no quantitativo pelo órgão público;
- Os horários de trabalho das equipes;
- Seguros, como exemplo caução de participação ou de contrato, geralmente de 1% e 5% respectivamente.
- Obrigações do contratante para facilitar o acesso e instalações provisórias de água e luz.
E, talvez o ponto mais importante é de sempre conferir os quantitativos da planilha fornecida no edital.
Com os projetos dá perfeitamente para conferir, se atente aos itens mais relevantes de uma curva ABC de serviços por exemplo.
Assim, pode-se evitar grandes perdas em contratos de licitações com uma simples conferência.
2. Leitura e interpretação dos projetos e memorial descritivo
Realizar uma boa leitura e interpretação do projeto, é essencial para inserir no orçamento de obras tudo aquilo que o projetista e o cliente ambiciosamente definiram como parte importante do produto final.
E que se espera ser executado e entregue pelo construtor.
Se a leitura for errada, faltará escopo no orçamento mas pode ter certeza que na hora da execução haverá cobrança sobre os requisitos previamente definidos.
Muito cuidado nessa etapa! O produto final será criado a partir dessas informações técnicas.
Em breve estarei disponibilizando uma novidade nessa etapa já que ela depende exclusivamente da experiência do orçamentista.
3. Visita Técnica
Uma visita técnica sempre é bem-vinda antes de realizar qualquer tipo de obra.
Logo, torna-se uma boa prática para evitar surpresas na hora de executar o contrato.
Assim, podemos listar alguns dos itens mais importantes para levantar na visita e aproveitar ao máximo desse dia dedicado exclusivamente a essa tarefa, vamos ver juntos:
- Registrar o local e os pontos chaves, através de fotos para mais tarde consultar em caso de dúvida;
- Analisar o estado das vias de acesso a futura obra;
- Verificar o acesso de equipamentos, materiais e disponibilidade de mão de obra daquela região;
Tire o máximo de informações importantes para a elaboração do orçamento de obras.
Muitas empresas com receio de esquecimento dos profissionais, fornecem modelos de levantamento com perguntas padronizadas.
Assim, diminui o esquecimento e melhora o processo de levantamento de dados.
Composição de custos
Agora ficou fácil continuar o orçamento de obras.
Com todos os requisitos em mãos é hora de identificar e quantificar os serviços.
Apesar de simples, essa etapa precisa ser realizada com muita cautela, um pequeno erro no quantitativo de um serviço pode colocar todo o trabalho a perder.
Feito o quantitativo, vamos para o custo direto.
Que é simplesmente inserir os preços unitários dos serviços levantados.
Considera-se como custo direto todos os ônus realizados diretamente em campo.
Geralmente cada empresa possui suas próprias bases de dados com composição de custos.
Ou, se não possuem, deveriam.
Levantar suas próprias base de composição é uma vantagem competitiva absurda com quem não tem ideia de quanto custa 1 m² de um determinado serviço.
As composições de custos demonstram nossos gastos por unidade de serviço.
E, em cada serviço, seus respectivos insumos necessários para execução.
Depois dos custos diretos, devemos levantar os custos indiretos.
E, por sinal correspondem ao oposto do direto, é todo custo que não é assimilado com os serviços de campo, mas que são necessários para que eles sejam executados.
Devemos nessa etapa, levantar os custos de escritório, celular, automóvel, engenheiro, mestre de obras, etc.
Começamos então a cotação de todos os insumos da composição, direto e indireto.
Com todos os custos em mãos, podemos utilizar o departamento de suprimentos para ajudar nesse procedimento.
Para finalizar a composição de custos, é necessário inserir os valores dos encargos sociais trabalhistas.
Essa porcentagem vai depender muito de cada construtora e sua região, geralmente fica entre 105 a 135%.
E, significa se a hora homem de um carpinteiro é por exemplo:
R$ 5,00/h – custo direto, para o empregador o custo no mínimo sairá por R$ 10,25/h, utilizando um encargo de 105%.
Sim, acredito que agora você entenda quando seu diretor chega na obra e vê aquele monte de funcionários parado, o desespero que bate não é à toa.
Essa alta porcentagem é resultado dos inúmeros impostos que incidem sobre a hora homem e aos direitos dos trabalhadores (férias, décimo terceiro, aviso prévio, etc.)
Fechamento do orçamento
Para finalizar nosso orçamento detalhado com todas as etapas, restou apenas inserir a lucratividade desejada e os impostos.
Esses valores são bem variados, principalmente lucro, que irá depender de cada empresa.
Desde a necessidade de ganhar uma obra até o risco embutido na proposta.
E, para realizar essa última etapa, utilizamos o BDI, que será aplicado sobre o custo direto da obra.
Esse fator irá representar na planilha o custo indireto, lucro e impostos.
Existe uma fórmula bem simples para o BDI. Assunto pelo qual renderia um outro guia completo.
A definição mais simples de BDI é Benefícios (lucro) + Despesas Indiretas.
E, após todos os passos anteriores, nasce nossa planilha de obras com todos os serviços levantados corretamente sem esquecer de nenhum detalhe importante.
Assim, geramos nossa planilha de preços, dependendo do sistema que você utilizar, facilmente podemos emitir relatórios de curvas, composições, Leis Sociais e BDI.
Utilize esses relatórios para indicar quais os serviços devem ser revisados e quais em hipótese nenhuma pode ter algum tipo de desvio.
Conclusão
Elaborar um orçamento detalhado não é fácil, mas pode sim ser simples.
Mesmo que comece sem experiência, existe uma vantagem competitiva que pode colocar você alguns quilômetros à frente da concorrência.
E essa vantagem se chama conhecimento.
Ler um artigo sobre esse assunto me mostra que você tem interesse na área e está buscando por conhecimento.
Parabéns por ter chego até aqui.
Quer se tornar Especialista em Custos? Recomendo o treinamento oficial do blog Engenheiro de Custos.
Esse é o primeiro post de uma jornada na engenharia de custos.
Gostou do artigo?
Eu adoraria saber a sua opinião sobre o post através de um comentário logo abaixo.
E caso ele tenha sido útil para você, aproveite para compartilha-lo com um amigo que precise de dicas como essas para colocar em prática conceitos de orçamento de obras.
E será uma grande honra contar com você nessa jornada.
Porque juntos somos mais fortes.
Afinal, ser Engenheiro de Custos é muito mais que preencher uma planilha.
Forte Abraço e até o próximo artigo!